O papel da escola e o mercado de trabalho para o aluno com deficiência intelectual


   

Minha mãe falou que se eu trabalhar, perco a pensão.

" F. com 25 anos, está matriculada em um classe especial, não é alfabetizada, porém tem habilidades incomparáveis : gosta de conversar, tem habilidades manuais  e demonstra autonomia e auto cuidado incomparáveis (não sai de casa sem passar um batom!!!!)." Porém sua mãe sente-se mais segura com F. na escola, onde tem oportunidade de estar com pares "iguais a ela", além de ter acesso aos conteúdos escolares, mesmo que não os domine."

O movimento inclusivo tem nos levado  a repensar sobre os valores e atitudes relacionadas ao indivíduo com deficiência. Saúde, Educação, Esportes e Lazer, são alguns dos setores da sociedade que tentam criar e oferecer oportunidades de inclusão para esses indivíduos.

Porém tais tentativas ainda não conseguem estabelecer de fato essa inclusão por diversos motivos, principalmente para as pessoas com deficiência intelectual, devido ao seu perfil diferenciado e comprometimento cognitivo real..

Para essas pessoas, não basta apenas o trabalho pedagógico centrado na alfabetização, pois a longo prazo, muitos não conseguirão obter êxito na leitura e na escrita.   Por outro lado, muitos deles, já  fora da idade escolar obrigatória, atuam de forma independente em sua vida fora do espaço de ensino e também contribuem de alguma maneira com seu trabalho para o desenvolvimento da sociedade local. 

A falta de possibilidades de acesso ao mercado de trabalho aliados ao tempo em que permanecem na escola sem resultados efetivos de escolarização evidenciam  que uma mudança de olhar sobre este público que faz necessária.

Segundo a Declaração de Salamanca,

"Jovens com necessidades educacionais especiais deveriam ser auxiliados no sentido de realizarem uma transição efetiva da escola para o trabalho. Escolas deveriam auxiliá-los a se tornarem economicamente ativos e provê-los com as habilidades necessárias ao cotidiano da vida, oferecendo treinamento em habilidades que correspondam às demandas sociais e de comunicação e às expectativas da vida adulta. Isto implica em tecnologias adequadas de treinamento, incluindo experiências diretas em situações da vida real, fora da escola. O currículo para estudantes mais maduros e com necessidades educacionais especiais deveria incluir programas específicos de transição, apoio de entrada para a educação superior sempre que possível e conseqüente treinamento vocacional que os prepare a funcionar independentemente enquanto membros contribuintes em suas comunidades e após o término da escolarização. Tais atividades deveria ser levadas a cabo com o envolvimento ativo de aconselhadores vocacionais, oficinas de trabalho, associações de profissionais, autoridades locais e seus respectivos serviços e agências"

Como professores, sabemos que muitos dos nossos alunos com deficiência intelectual mesmo sem serem alfabetizados, são capazes de desempenhar funções laborativas com sucesso, pois as  competências adquiridas levam a interação com o ambiente em que vivem, obtendo proveito à sua vida pessoal. 

O modelo escolar curricular atual não prevê a conclusão da escolaridade sem  a alfabetização. Por outro lado,  a certificação de conclusão  é atrelada a conhecimentos acadêmicos que não fazem parte do alcance desses indivíduos.

Por outro lado, as empresas, preocupadas com o cumprimento às leis trabalhistas, promovem a inclusão de deficientes em seus quadros de funcionários, mas quando se deparam com a falta de escolarização da pessoas com deficiência intelectual ficam impedidos de contratá-los.

Cabem às comunidades escolar e empresarial  eleger novas  maneiras de promover a contratação de indivíduos com deficiência intelectual, utilizando critérios diversificados e baseados em habilidades e competências , favorecendo a eliminação  das barreiras encontradas por todos.

O desconhecimento destes com esse processo poderá resultar na perda de uma ponte que pode e deve ser realizada entre a escola e o trabalho que  poderia ser enriquecida grandemente com as experiências obtidas no decorrer desta trajetória.


Partes extraídas  de "A Aplicação da Lei da Terminalidade Específica como fator de inclusão do deficiente mental no mercado de trabalho" :Trabalho do Conclusão de Curso apresentado por mim, para a obtenção de especialização Lato Sensu em Deficiência Mental pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-UNIRIO.

Phedagogika.mente

Meu nome é Elisabete Miranda de Oliveira. Atuo no magistério há 37 anos, em diferentes níveis e funções. Acredito que o nosso conhecimento deve ser compartilhado ,pois se não for assim, torna-se inútil.

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