Apresento a vocês a minha querida amiga Beth Canejo!
Trabalhamos juntas na Rede Estadual de Ensino, ambas como AEE. Sua postura perante à vida e sua história de superação nos faz repensar sobre nossas próprias atitudes.
Nome: Elizabeth Canejo
Idade: 61 anos
Profissão: Professora de Educação Especial
Phedagogikamente: Por que escolheu essa profissão?
Elizabeth: Gosto de ensinar e estar em contato com as pessoas,é na relação interpessoal que trocamos ideias e conhecimentos e aprendemos muito uns com os outros. E assim compartilhamos saberes.
"Mestre não é quem sempre ensina mas quem de repente aprende".
Guimarães Rosa
Phedagogikamente: Qual foi a sua maior dificuldade na escola?
Elizabeth: A minha dificuldade na escola estava nas relações interpessoais, tanto com os colegas quanto com os professores, devido a uma enorme timidez.
Isso me prejudicou muito, inclusive nas questões pedagógicas, pois tinha vergonha de pedir ajuda aos professores.
Mas ao longo do tempo, principalmente depois da cegueira eu fui me libertando da timidez sem fazer qualquer processo terapêutico, pois percebi que tinha que me comunicar com as pessoas até mesmo para explicar minha condição atual.
Nesse processo de autoconhecimento descobri, que era a visão, ou seja o olhar do outro que me incomodava, pois "olhar" das pessoas carrega uma conotação de te colocar para cima ou para baixo.
Na verdade carregamos dentro de nós algumas crenças limitantes, que nos impede de sermos felizes.
Sócrates já dizia "Conhece-te a ti mesmo"
O primeiro passo para o autoconhecimento é nos conhecermos a nós próprios para depois compreender os outros e o mundo.
Então... resolvi pegar "o limão e fazer uma limonada", ou seja: fazer da falta da visão uma coisa positiva para minha vida.
O olhar do outro, já não me atinge mais, pois eu não estou vendo se a pessoa está fazendo uma cara bonita ou feia. KKKK....
E assim vou levando a vida de uma forma leve, sem "neuras"
Phedagogikamente: Como os professores lidavam com a sua deficiência?
Elizabeth :Eu me tornei pessoa com deficiência visual - cega total, após a graduação (Licenciatura Plena em Português Literatura).
Phedagogikamente: Conte um pouco da sua vida: suas dificuldades, alegrias, vitórias...
Elizabeth: Então vamos lá!
Nasci com uma doença chamada Glaucoma, que é causadora de cegueira (ainda hoje não tem cura, nem transplante), existem tratamentos paliativos , como por exemplo: colírios, cirurgias e aplicações de laser, tudo isso para manter a pressão intraocular em equilíbrio.
Após a cegueira, fui para o Instituto Benjamin Constant onde tem um centro de reabilitação e lá aprendi a leitura e escrita do Sistema Braille, orientação e mobilidade (andar com autonomia e independência utilizando a bengala).
No ano seguinte ingressei no curso de especialização em deficiência visual, onde aprendi muito como pessoa cega e como profissional de educação especial.
Em seguida entrei para o mestrado em Educação Especial na UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (tive muita ajuda de colegas e professores .
Logo depois prestei concurso para a Secretaria de Educação RJ. para o cargo de professora de Educação Especial para atuar em sala de recursos.
Sou uma pessoa abençoada, pois tenho uma família maravilhosa que me apoia em tudo e também amigos sensacionais e sei também que posso contar com eles para o que der e vier.
ISSO É TUDO QUE O SER HUMANO PRECISA ,para viver bem!
Levo uma vida "normal", faço tudo que um "vidente" faz.
NOTA: vidente - toda pessoa que enxerga
É claro que guardando as devidas proporções...
Uma situação que me traz muita tristeza, ainda hoje, apesar dos recursos tecnológicos é não poder ler com os meus próprios olhos.
Enfim não podemos ter tudo, mas o que temos já é bom! Porém pode sempre melhorar.
Vitórias... é ter chegado onde cheguei profissionalmente. Alegrias... é estar sempre aprendendo, inclusive depois de cega aprendi a surfar, mergulhar com (cilindro de oxigênio) e também participei de vários campeonatos de natação e maratonas aquáticas no mar. Tristezas... já mencionei acima: não poder ler com meus próprios olhos e não ter mais meus pais convivendo comigo. (falecidos)
Eles foram os responsáveis por tudo que conquistei.
Preconceitos... existem, porém eu não os carrego dentro de mim.
"O melhor antídoto contra o preconceito é a informação"
Phedagogikamente: Já sofreu preconceito por causa da sua deficiência? Se quiser, comente aqui:
Elizabeth: Sim! o ser humano é muito carente de informações e isso,leva ao PRÉ conceito, ou seja , ideias errôneas sobre determinados assuntos.
Mas sabendo lidar com essas questões: "a gente leva numa boa"
Por exemplo: se me chamarem de "ceguinha..."eu Beth, não vou me importar, pois sou cega e baixinha, isso para mim não é ofensa.
Já dizia o dito popular:
"feliz daquele que se reconhece"
O veneno só mata se agente tomar...
E eu procuro não tomar venenos, pois não quero morrer envenenada, não vou estragar a beleza dos meus dias com pessoas infelizes e mal resolvidas.
Gente mal resolvida é uma bomba silenciosa contra nossa autoestima.
Phedagogikamente :Qual a sua opinião sobre a inclusão atualmente?
Elizabeth: Sou favorável se for feita com responsabilidade, comprometimento e qualidade, porém não sou ortodoxa , ressignificar não significa retroceder.
Existem casos que ainda é melhor que o aluno esteja em uma classe especial com seus pares e até mesmo em uma escola especial, essa é a minha opinião.
Podemos conversar sobre isso, em outra ocasião, o que acha?
Tenho um artigo que trata desse assunto .
Phedagogikamente :Deixe aqui uma mensagem para os professores que tem alunos com deficiência:
Elizabeth: Não olhe só para a deficiência e/ou transtorno do seu aluno, não fixe no que ele não pode fazer, isto já está posto e não pode ser modificado, traga a tona algo que ele possa fazer mesmo carregando a "limitação, saiba que o ser humano tem múltiplas inteligências e você professor pode fazer a diferença...potencializando, valorizando e estimulando talentos, que ainda não foram aflorados.